terça-feira, 25 de novembro de 2008

Querer

Mulher-Muralha feita de verdades e vontades,
Fêmea-Minimalista surgida das poucas porções de vida,
Pessoa-Indefinida forjada pelas incertezas não vividas,
Criatura-Montanhosa de grandes dimensões e pequenas decepções,

Quero minha parte oculta e escura onde pouso descansada,
A luz ofusca a visão e perturba o razoável,
A cabeça dói e lateja por ser quem queria não ser,
Tarde, muito tarde para mudar de direção,

Misturas de coisas sentidas e passagens lacônicas,
Uma estrada coberta de poeira e barro deslizante,
Os escorregões e as fissuras nos joelhos são bem-vindos,
Provas na carne do trecho percorrido e machucado,

O terço entre os dedos, a guia no pescoço, a bíblia nas mãos,
Símbolos, sinais e arquétipos de fé,
A abertura para o novo entopem os ouvidos,
As vozes se confundem como se vindas do além,
As palavras já não mais se decodificam,

Quero um local povoado pelo silêncio e gente,
Gente vinda com a calmaria da morte,
Quero a cama quente e meus lençóis frígidos e frios,
Quero a lama do pós-chuva, a sujeira do mar pós-ressaca,

Arar minha vida, sugar o ar e ser engolida pelo deserto árido,
Enterrar mortos e vivos, desenterrar mortos-vivos,
Vagar por entre almas e de sobressalto ter o imprevisto por designo,
Sulcar cada centímetro de sopro de vida e viver,

Quero a presença, o espírito, planos e metas.
Quero.

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