segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Simplesmente





Queria muito esse querer, parecia orar por isso todos os dias,
Queria juntar-se e não mais sentir-se isolada, aguardava resoluções,
Porém, nada estava na sua alçada, tudo dependia da conjuntura,
Da infra-estrutura, da ocasião, do mérito e da pirâdime estrutural,
A qual já havia sido requintada, requentada e paralisada,

Nesse questionamento "aguardativo", ela espiava dois grupos distintos de criaturas,
O primeiro composto por pessoas desvalidas de sentimentos e fortemente guarnecidas de contruções abstratas,
Com capacidade cruel de descarregar todas suas frustações no seu outro
Fundamentados em suas mitomanias crônicas, essas criaturas vão elaborando estórias,
Se construindo e se compensando nelas e através delas,
Tentando tapar suas camadas de ozônio mentais com fantasias e narrativas fictícias,
Abalando e pervertindo o equilíbrio dela,

O segundo grupo formado por sujeitos capazes de acalentar e olhar,
Desnudados de maldade e forjados na flexibilidade do ouvir,
Nus e de pés descalços massageiam a areia molhada e macia da praia morna,
Com comportamentos maleáveis e adocicados, são esses seres que despertam,
Nela um repertório de transições, mutações e mudanças enriqueceroras,

Ela quase sempre habita seu lado de fora do mundo, numa forma enlouquecida de convivência,
A demência, vez ou outra, apodera-se dela; porém, quanto mais lucidez e sensibilidade ela tem,
Mais sofrido é viver regras impostas pela sociedade que, normalmente, a sufocam e estrangulam,
Ela fica grande e sábia quando encontra em si mesma os ítens que quer alterar,
Ela não quer mudar nem trapacear, ela quer transgredir, superar e ser superada,

Ela deseja ser o meio, a equação, o "entre", o ponto médio, nem boa nem má, apenas ela,
Quer o pacto das duas partes, o ressoar e o entoar do resultado da reinvenção do bom,
Quer o vínculo, o elo, a ligação, a bússula, a semente na terra, o fruto no pé,
Ela quer vida, vida vivida, vida sabida, vida inventada, vida brincada, vida verdade,
Quer tradição, eterno, perdão, paixão, cabeça na lua e muito pé no chão,


Ela não quer fórmulas, não quer receitas, não quer paradigmas, não quer parâmetros, nem dogmas,

Quer somente o bom e o equilíbrio entre forças e grupos ,

Quer a senóide dos sentimentos, a negociação com a dor e o acordo com a alegria,

Outra vez, ela quer ser a absoluta e real justaposição, a relação vertical e a congruência.


Seu desejo profundo e exclusivo é ver e sentir o regular, o coerente, o ordinário e o harmônico,

Ela quer simplesmente o simples.

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