sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Taças




Meu
rio está cinza chumbo, meu céu azul, minhas nuvens brancas,
Meu café preto, meu cabelo castanho, minhas flores liláses,
Meu sangue vermelho, minha pele amarela, minhas uvas roxas,
A cidade coberta e recoberta de verde e amarelo,
Minhas unhas francezinhas,

Cores se misturam, estações mudam, lugares se substituem, pessoas se transferem, se deslocam,
As caixas não são sufucientes e minhas coisas se reproduzem,
Entre idas e vindas do tal "refuse closet", vou me desfazendo de tudo o quanto posso,
Jogo fora o novo, jogo fora o velho, jogo o que não consigo levar comigo.

Levo pouco, não preciso de muito,

As buzinas ecoam, as sirenes berram, o povo corre apressado.
O equilíbrio, vez ou outra, falta, forças iguais e contrárias, tudo na proporção devida,
Uma indefinição grave e heróica, a certeza magnífica com dimensões reduzidas,
O telefone toca, mais uma cilada, mais uma charada não decifrada,
A porta se abre, o vinho não chega,

As taças, já empacotadas, tranquilas aguardam por serem usadas,
A alforria se retarda, os negros permanecem com seus gritos entalados,
As gargantas sufocadas, abafadas e reprimidas,
Dependem do fio da navalha afiada,
Para, enfim, gritarem: "LIBERDADE"

A princesa tarda em assinar tal carta,
Não há pressa, o quartel encontra-se em prontidão,
Será com desembaraço e agilidade que os soldados pegarão suas armas,
Não são armas de fogo nem de matar,
São as armas da brandura e da bravura,

Nada religioso, tudo misterioso,
A fé é acionada com constância e veêmencia,
Fechando a composição física, energética e espiritual,
Nenhuma mossa, nenhum trincamento, nada fragmentado,
A linha cósmica prossegue intacta,

Modificando corpos, matérias, canalizando ações e revitalizações,
Mantendo o bom e estimulando o excelente,
As cores vão se transformando,
Os barulhos externos cessando,
E sobram esperanças, probabilidades, expectativas.

Vivo, vives, vive, vivemos, viveis e vivem


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