quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Comigo









Em processo,
metamorfoseando, em transição, em transformação, oprimida pelas mudanças, me modificando, me alterando, agarrada ao jeans com tênis, me confundo. Meu encontro comigo vai acontecendo, lento, sútil, consiso, indizível e encantador.

Minhas mãos gelam, minha cabeça roda, meu corpo treme. Confrontar-me com ela é, escandalosamente, atemorizante. Quem é essa mulher que me assunta, me apavora, me amedronta com suas novas e inusitadas manias. Com suas vontades e demandas que se confrontam com as minhas? Quem é ela que me aparece de quando em quando, me levando para dimensões e chãos jamais pisados por meus pés quentes e afogados no lodo do passado? Capaz de elevar minha auto-estima, ela vai me sofisticando, provocando minha elegância e vaidade.

Ociosamente e preguiçosamente, vou me deixando levar por ela. Cada dia uma lição nova. Ela é muito mais inteligente e bonita do que eu, sabe o quer e, definitivamente, tem uma auto-confiança de dar inveja. Tenho ciúmes dela, cobiço seu poder e lugar.
A intimidade dela com ela mesma é nojenta e me provoca repulsa. Porém, ela vai se apoderando do meu corpo, de mim por inteira, e eu não sou mais eu.

Debilitada e sem forças para lutar contra ela vou permitindo, orgulhosamente, uma mulher renovada tomar consistência da minha parte visível aos olhos da humanidade. Nervosamente e atenta aprecio cada detalhe das mudanças e restaurações que ela tem feito em mim. Ancora no meu porto uma pessoa linda, vaidosa e exigente, que desenvolveu sua maneira própria e peculiar de ser. Desguarnecida, desarmada e com alguma petulância autorizo o desembarque.

A mandala da vida passa por mim lentamente e vai refletindo essa pessoa que eu sempre quis ser. Embora saindo, completamente, da minha zona de conforto e segurança, vou arriscando um brilho aqui um salto mais alto ali. Uma novo rímel, uma nova base, uma sombra arrojada. Vou me imputando obrigações de carinho e beleza de mim para mim mesma.
Vou aprendendo pequenos truques de moda e beleza e me apegando à certas coisinhas desnecessárias, mas obrigatórias e indispensáveis para esse novo rumo que ela me fez seguir.

Sem perder minha essência, meu conteúdo, meu interior, minha substância concreta, me aventuro seriamente nessa experiência de cuidar-me, amar-me e enfeitar-me. Para ninguém, para mim. Quero a singularidade, a complexidade, a bravura, o ultrapassar.
Quero ser única, complicada, valente, transpor a tangente, morar e re-existir em mim.

Ela, que já me habitava, me fez provar o belo, desafiou possibilidades ocultas e capacidades latentes em mim e esse conjunto de normas inovadoras e petulantes
agradaram-me os cinco sentidos.

Resplandeço e saliento-me. Estou em evidência.




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